segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Virtual

Perdi uma aposta e fui obrigada a parar no Tinder.
Foram 26 dias submersos no game, feito uma personagem de Black Mirror.
Puuuta experiência antropológica! Tipo um mergulho no "Operários", da Tarsila do Amaral. 
Estava ficando craque, já, em olhar na fuça do sujeito e definir se "Ele Sim" ou "Ele Não". Geralmente acabava direcionando todo mundo pra esquerda. 
Família Tinder aumentando descaradamente na minha lista de contatos, um-vai-pra-lá-vem-pra-cá frenético para entrevistas presenciais no Bar do Estadão, rota de fuga segura para meu QG paulistano, e a percepção de que no final das contas, as conversas estavam mais para sessões de coaching com contatos descolados no Linkedin do que para o programa "Namoro ou Amizade", do SBT. 
E eu lá, com a paciência firmona, aguçando minha habilidade em desviar de malas dentro de saias justas... praticamente uma comissária de bordo. 
Então veio a etapa hard! O WhatsApp travou (o Messenger já tinha ido pro saco logo na largada). O celular começou a reiniciar sozinho. Instagram em perigo. Facebook fechando no meio de um live. 
Concentre-se, Livia! A mumunha agora é liberar espaço!
Comecei pelo aplicativo do banco, uma fácil decisão. Dali a pouco, lá se foi meu Maps. Desabilitei até a coitada da Bike Itaú. 
Quando estava prestes a excluir o Climatempo, tive a grande sacada! Mandei meu número pra uns 4 gatos (?) pingados e finalmente pá!: excluí o Tinder e fui pro bar. 
Solos de violino e trombetas angelicais retumbaram em meus ouvidos. Um mundo de possibilidades na base do "a realidade sempre é mais ou menos do que nós queremos" se descortinou para mim. Ando até lendo uns livrinhos, quando sento para o número 2. 

Modéstia à parte: acho que venci o jogo, né?! 👊



segunda-feira, 18 de junho de 2018

Orelhas

Quando ela nasceu, as orelhinhas saíram meio amassadas, meio "dumbinhas", olhando vesguinhas pra mim, pedindo que pensasse rápido. 
Passei meses grudando aquela cartilagenzinha mole na cabeça cabeludinha com esparadrapo micropore, esparadrapo comum que gruda melhor e até fita crepe. Limpei as dobrinhas com cotonete e óleo Johnson, para não criarem casquinhas. Pendurei brinquinhos de bolinha, de florzinha, de bichinhos, de ouro, de 1,99... 
Uma vez, apliquei Reiki para desentupir o ouvido esquerdo quando esse era o único recurso que restava a uma mãe insone, numa madrugada chuvosa e sem carro, na Praia Brava de Ubatuba. 
Cuidei que pelos tímpanos só entrassem sons bacanas, palavras suaves, músicas bonitas, notícias interessantes. 
Confesso que precisei puxá-las um pouquinho vez em quando, claro, que isso também faz parte de toda uma cadeia de amores auriculares. 
Zelei por essas orelhas por mais de 15 anos! Até que uma bela noite, dona Bartira Mannini me chega em casa toda curuminha, com fones no ouvido e um alargador em cada lóbulo, maiores que o ilhós da cortina da sala! 
Quanto mais crescem aquelas orelhas, mais aumentam minhas OLHEIRAS. 

(post maternal de 16 de maio de 2012, resgatado entre os escombros do Facebook) 

terça-feira, 5 de junho de 2018

Letra de música


Se acaso por ti
Eu sentisse o que sentem
Esses mais pobres moços
Desses tempos recentes

Te faria um som pop
Ou então um pagode
Exaltando um amor
Que se esvai de repente

Se por ti eu sentisse
O que rima essa gente
Solidão num refrão
Era o suficiente

Mas te sinto um amor
De outra vida - quem sabe? -
Quando amar era mais
Que uma vaga saudade

Quando amar era eterno
E a cantiga era imensa
Quando o amor se fazia
Numa dança intensa

Eu te sinto um amor
Que não cabe num rock
Que não cabe no funk
Nem no country ou no rap

Esse amor que te tenho
Não faz nem mais sentido
É amor de seresta
Valsa, choro... outro artigo

É de um tipo de amor
Que no peito ecoa
E só cabe entregá-lo
À segunda pessoa

O amor como eu sinto
É um amor ancestral
Que hoje em dia não toca
Na playlist em geral

domingo, 29 de outubro de 2017

Beijo roubado

Vermelho. No vestido floridinho de malha combinando com tênis, no batom meio cedo para aquele tom, no espírito à vontade e, inevitavelmente, no fundo do bolso. Parti com ares de livre, leve e solta para encontrar os camaradas na Praça da Harmonia e conferir os festejos que o Prata Preta e o Comuna que Pariu promoviam em comemoração aos 100 anos da Revolução Russa.
Cheguei no crepúsculo. Tarde quente. Roda de samba começando a pegar fogo, gente bonita reunida, um paquera (ainda se usa esse termo?) das antigas pintando no pedaço com uma cara que me pareceu mais linda do que da última vez que o vi, glicemia controlada, endorfina “nos trinques”. Meus pés já irrequietos começavam a acompanhar o toque do surdo, anunciando-me que essa baguncinha seria daquele jeito que eu gosto!
Ouvi uma voz angelical sussurrando-me baixinho a promessa que me fiz enquanto trancava a porta de casa: “hoje a campanha é ‘mico zero’, garota”. Recusei com convicção aos copos de cerveja gentilmente oferecidos pela rapaziada, explicando que, extraordinariamente, antes de escurecer só beberia água mineral. E quase fui antipática quando desfilei por eles com uma cumbuquinha comportada, cheia de caldo verde.
Olhei para o céu e a lua estava lá, alaranjada, me mandando um sorrisão gostoso. Uma já quase esquecida sensação deliciosa invadiu minha espinha dorsal e foi parar nos meus pulmões. A uma semana de comemorar mais uma primavera (e este, usa-se?) no grupo dos “enta”, saindo de uma bad amorosa com um hematoma do tamanho de uma chuteira e ainda roxinho na bunda, uns tríceps tristes e um “panceps” robusto me lembrando que de manhã não fui à academia porque Eparema não bastou para me ressuscitar, além de uma ninhada de preocupaçõezinhas piando na cachola, quem imaginaria que esse sábado seria capaz de me encontrar tão... feliz?
Então veio a noite com seu manto abençoado brindar à alegria do povo ocupando o espaço público por causa da poesia, da arte, da música, da festa. Um brinde aos folguedos! Um brinde à luta do trabalhador contra todas as formas seculares de opressão. Um brinde à liberdade de se ser quem se é, coisa da qual ninguém aqui vai abrir mão não, seu Doutor! Um brinde às ruas por onde passeia o João do Rio que há em todos nós. Um brinde à cultura popular brasileira. Um brinde aos orixás que nos protegem... salve a ibejada! Um brinde ao amor precioso que há de se dar apenas porque se quer e não custa nada. Outro brinde! Mais um! Um pouco mais de gelo na catuaba – Selvagem.
Há certa altura, seguindo os cabeções de Marx e Lênin em cortejo pela Gambôa, saco uma nota de vinte para comprar uma brahminha de um ambulante que empurrava um isopor pouco atrás de mim e que, provavelmente, acompanhara meus passos trôpegos já desde o começo da ladeira, próximo ao Sindicato dos Estivadores. Latão é seis!
Enquanto aguardava o troco, meu olhar já meio japonês viu o rosto risonho do jovem vendedor se aproximar do meu. Dei um passo pra trás, mas dois brações fortes envolveram-me a cintura e voltaram-me pra frente, apertando-me de encontro a um peito largo e agradavelmente suado. Feito Juliana com uma rosa e um sorvete na mão, fui girando, girando até quase perder o fôlego com aqueles lábios carnudos grudados por trinta segundos na minha boca. Um brinde aos inesperados e todas as suas surpresas!
Que me perdoem as amigas solteiras pela concorrência desleal, mas o caso é que definitivamente aconteceu de essa ser uma daquelas noites mágicas que me ocorrem de quando em nuca, em que os santos tramam alguma coisa lá no infinito, rabiscam um não sei quê no meu mapa astral e me escolhem entre tantas para receber umas graças e me presentear com uma luz radiante que a todos contagia. Um brinde a Virgem Maria! Olha que agora estou é a iluminar os caminhos dos perdidos, enternecer os corações dos duros, acalentar o choro dos sofridos, encorajar os punhos dos ofendidos, colorir as nuvens negras e – juro que não é de propósito – atrair alguns homens.  Mais um brinde de saideira, então, à falta de modéstia, porque a titia aqui está, ó: uma brasa, mora?
Domingão, secura na garganta, cabelos empastelados, olheira azul marinho na imagem do espelho, zumbido de trombetas desafinadas no ouvido, ergo-me das cinzas. Tiro meu cérebro do modo “economia de energia” e ponho-me a fazer umas contas, para ter uma noção de quanto é que essa divina farra me custou.
Sentindo a falta de uns trocados na carteira, começo a rebobinar o filme devagarzinho: barraca do caldo, água, catuaba, aqui dez, ali mais tanto – tô ferrada! – mais seis ali e... pausa! Cadê meu bendito troco? Lá estão catorze reais, iguais a confetes, esquecidinhos num branco total entre paralelepípedos, músculos ilusionistas, isopores e latões.
Vermelha! Eis a cor do nariz redondo desta palhaça que vos fala.
Uma dúvida, no entanto, ainda me aquece ao travesseiro: será que, em fevereiro, se eu der uma nota de cinqüenta, o malandro me enrola com um beijão de quarenta e quatro? 

Livia Mannini
(e ainda é só outubro/ 2017)

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Faz de conta

Festa de aniversário de uma boa colega de trabalho. Reuniãozinha dessas dentro de apartamento, que não podem passar das 22h. Então eu fui.
Ambiente de rodinhas de pessoas mui educadas. Rapazes de um lado, em suas camisas de botão, discutindo o futebol, o modelo do carro e o resort master-blaster onde passar uma semana com a esposa, depois da reconciliação. Garotas do outro, tricotando os assuntos mais relevantes da semana, como o preço da drenagem linfática, o anticoncepcional que não engorda, o fora que alguma conhecida ausente tomou do namorado, o chefe gato, o método Waldorf e outros temas que mulheres casadas conversam desde os tempos de Eva.
Cheguei um pouco atrasada, mas devidamente munida de alguma bebida, conforme ordenava o convite. Improvisara uma cachacinha mineira das boas que, embora tenha me custado uns bons níqueis no empório já quase baixando as portas no trajeto daquele sábado, terminaria fechadinha sobre a mesa, atrás das garrafas vazias dos châteaus
Como me é de costume, dei aquelas tropeçadas nos cumprimentos iniciais, procurando tecer uns e outros comentários engraçados na tentativa de entrar no clima, dizendo algo do tipo “faz tempo que não ouço Marisa Monte” sobre a música que tocava no Spotify e coisa e tals. Performance fraquinha. Contudo, durante trinta tensos minutos, a bandeja com canoinhas de salmão defumado me foi oferecida duas vezes.
Senti meu humor azedando, mas minha solicitude bradou mais alto e fui à cozinha dar uma força para a aniversariante, atarantada com uns pães de queijo de própria autoria esquecidos no forno, que não desgrudavam nunca mais da assadeira. Lavei alguns copos e talheres e já estava mesmo disposta a amarrar um avental, quando duas pequenas criaturas me salvam da maçada:
- Tia, me dá guaraná?
Não vacilei: puxei papo! Eram dois bibelozinhos de 4 e 6 anos, com uns olhinhos desconfiados. Esforcei-me em não parecer falsa naquela minha prestatividade e enchi dois copinhos de plástico faltando um dedo para a boca. Obviamente, tomei o cuidado de sair do campo de visão da mãe, que lá na sala, esparramada no sofá, contava com detalhes sobre a contusão que sofrera durante uma aula de Pilates para uma outra convidada que restringia-se em balançar o queixo em sinal de negativo, demonstrando sincera perplexidade.     
Olhinhos me encararam. Ganhei um sorriso da maior, que decodificou perfeitamente a senha secreta. Zás! Engoli o resto da taça de vinho e deixei a dupla me conduzir, sob o pretexto de transportar o copo para menor, “senão o guaraná pode fazer sujeira no tapete branquinho do corredor”.
Chegamos no quarto cor-de-rosa da prima mais nova. A mais velha, com a propriedade de quem conheceu os avós antes, explicava-me o significado das roupinhas de todas as bonecas, tim-tim por tim-tim. A menor, sentadinha com as pernas para trás, tentava pentear o cabelo de uma de suas filhas com um pente de plástico inapropriado para o nylon emaranhado, o que lhe garantia alguns solavancos com sua mãozinha direita no nariz, de vez em quando.
Bocejei numa espreguiçadela, arranquei os saltos e me larguei no puff de estampas inspiradas em quadros do Romero Britto com o firme propósito de não me levantar dali até o toque de parabéns-a-você, para então me encaixar de olhos fechados na selfie, dar um beijo com aroma de salgadinho frito no rosto de minha colega e me mandar.
A maiorzinha, porém, com a tagarelice herdada da mãe, desafiava-me a concentração decidindo com a priminha quem seria quem na brincadeira. Outorgando poderes de Ariel à pequena sereia, eis que Pocahontas me lança essa:
- E você é quem, tia?
Pergunta complexa. Branca de Neve? Não, não cairia na cilada de aceitar maçãs de estranhos. Cinderela? Jamais faria tanto esforço para comparecer a uma balada tão “coxinha”. Bela Adormecida? Humm, até que seria uma boa, se elas me deixassem tirar uma soneca... mas, espera...
Meu quarto na Rua do Sacramento. O berço com mosqueteiro para a maninha ainda bebê, minha caminha encostada na parede, o uniforme da pré-escola, com dois esquilinhos no logotipo. O baú de brinquedos. Os bonecos preferidos sobre o travesseiro. Feijãozinho.
Feijãozinho era um boneco com cabeça de borracha e roupinha de feltro. Todo fofinho, dava muita vontade de apertá-lo. Era de uma fábrica de brinquedos que lançou uns bonecos que tinham todos a mesma cara, só mudavam de roupa. Da mesma linha, eu também tinha a Farofinha. Nas minhas brincadeiras, Farofinha e Feijãozinho eram irmãos. Eu me dava muito bem com a Farofinha, mas gostava mesmo era do irmãozinho dela.
Da mesma fábrica, só que de uma outra coleção, tinha a Emília, personagem do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Mas eu não ligava muito para ela, porque nunca conseguia encaixá-la nas brincadeiras. Não cabia Emília nos assuntos das Barbies. Com ursos e coelhos também não dava certo, porque Emília era gente e bicho era bicho. Aluna ela também não podia ser, porque ela já sabia de um monte de coisas que eu nem sabia que não sabia. Mamãe também não, porque ela era criança. Então ela ficava ali enfeitando o quarto, vendo a gente brincar. 
Quer ver eu ter chiliques era uma tia que freqüentava muito minha casa chamar a Emília de “tadinha” e me pedir para eu brincar com ela também. Não sei por que, mas aquele pedido não me descia a goela. Emburrava! Juntava logo todas as panelinhas, derramava as comidinhas e guardava os brinquedos com raiva no baú.
O travesseiro. Eu tinha direito de escolher um brinquedo para dormir comigo, todas as noites. Eu sempre escolhia o Feijãozinho. Não tinha negociação, era ele ou birra. Mas demorava a pegar no sono.
Mal minha mãe saía do quarto depois do dorme-com-Deus, minhas tertúlias com Feijãozinho começavam. A gente falava em pensamento, para não acordar minha irmãzinha. E a gente falava muito. Ele contava pra mim que não gostava das outras bonecas, porque eram bobas. Exceto a Emília, que não era boba, mas era esquisita. Eu também contava para ele que não gostava dos amiguinhos da escola, porque eles riam de mim na hora do pega-pega. Eu perguntava para ele se era verdade que eu era feia e ele me dava beijo na bochecha porque me achava linda. Eu colocava o Feijãozinho na minha barriga, debaixo do pijama, pra ele dormir no quentinho, só que ele queria ficar dentro da calcinha. Eu deixava um pouquinho, mas tinha medo que minha mãe entrasse no quarto e descobrisse que a gente ainda estava conversando. Mas quando eu ouvia minha mãe brigar com meu pai, sabia que ela não iria entrar naquela hora. Então eu deixava. E ele ficava ali um tempão até me fazer “negocinho”. Era o nome que a gente tinha dado para aquilo que nós dois inventamos. Às vezes, quando terminava, o Feijãozinho ficava molhado e eu nunca sabia o que fazer com ele daquele jeito. Então eu esfregava o Feijãozinho na parede até secar.
Não sei se de tanto esfregar o pobre boneco na parede, o caso é que um dia o Feijãozinho furou e de dentro dele começaram a vazar umas bolinhas de isopor. Minha mãe bem que remendou muitas vezes o Feijãozinho para mim, mas a cada semana ele ganhava um buraquinho novo, até que sua cabeça de borracha finalmente caiu. Um dia, cheguei da escolinha e não o encontrei. Minha mãe contou que ele e mais umas duas bonecas esfarrapadas tinham ido morar no Mundo da Lua.
Feijãozinho me abandonou assim, sem maiores explicações. Eu tinha cinco anos de idade e essa foi minha primeira desilusão amorosa. E por causa do Feijãozinho, durante muito tempo acreditei que garotos têm cabeça oca de borracha, coração de isopor e que um dia dão defeito e vão embora com outras bonecas.
- Tia? Tiaaa?
Voltei para o puff com a resposta.

- Eu sou a Emília.

 L. M. (primavera/ 2017)







quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O Cético

- Oh, cigana, o que lês em minhas mãos?
- És menino e tens a’lma cristalina
Teu futuro, abrirás com pés no chão
Caminha, pois, sob a luz que o destina.

- Oh, cigana, o que vês em minhas mãos?
- És homem de coragem pequenina
Tens no peito orgulho cego e ilusão
Desperta, pois, e ilumina tua sina.

- Oh, cigana, o que fiz com minhas mãos?
Por que nelas não enxergo uma linha?
Ergui, pois, meu alto eu na escuridão?

- És já velho e teus ais não te adivinhas!
Construíste, pois, tua vida em solidão
Porque sobre tuas mãos negaste as minhas.⁠⁠⁠⁠


(Sonetinho diet... cortei os palavrões. Só por hoje!)

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Técnica do Número 2

Acabou. Chega. Zé fini!
Você está realmente convict@ de que não quer mais sofrer por causa daquela pessoa.
Você já cansou de pinimbar para provar isso ou aquilo. Não quer mais ficar verde de raiva por causa dos absurdos que ouviu, não quer guardar mágoas, não quer mais morrer de saudade e chegou à conclusão de que a relação realmente não tem mais jeito. Você está mal e quer sair dessa vibe e ficar legal, como você era antes de conhecer @ traste.  
Ótimo! Você está prestes a se livrar de uma vez por todas desse encosto.
Sinceridade na fala? Pense bem, porque depois que usar essa técnica, não tem retorno. Você vai voltar sozinh@ dessa experiência.
Estamos pront@s? Então vamos lá!

1. Assim que sentir aquela vontade de ir ao banheiro fazer “número 2”, vá munid@ de lápis, duas folhas de papel para escrever (além do papel higiênico, claro) e certifique-se de que ninguém vai interromper o ritual espancando a porta, perguntando se você vai demorar muito. Porque vai!

2. Sente-se no vaso. Relaxe. Respire profundamente pelo menos 3 vezes. Esvazie a mente. Não deixe que nenhum pensamento grude em seu cérebro. Se precisar, coloque um fundo musical baixinho... tem uns mantras bacaninhas no YouTube. Segure o bolo fecal. Não é o momento ainda.

3. Imagine seu organismo por dentro. Sinta o ar entrando e saindo dos pulmões. Sinta o seu coração batendo mais tranquilamente. Sinta seu pulso. Mexa nos cabelos, solte os ombros. Mentalize o sangue percorrendo suas veias, levando energia para os mais extremos cantos desse templo onde você mora chamado corpo.

4. Massageie sua barriga lentamente com movimentos circulares no sentido horário, em torno de seu umbigo. Converse com seu intestino. Peça sua colaboração para iniciar esse processo tão necessário, que mudará sua vida definitivamente.

5. Comece a emitir alguns sons. Invente uma melodia e cante um pouquinho, ao expirar o ar. Se não quiser inventar nada seu, porque pode não estar acostumad@ a cantarolar solitariamente no banheiro, pode usar o mantra “OM”, que é basicão, sagrado e ótimo pra tudo.

6. Agora você vai falar sozinh@. Diga rapidamente 26 vezes a palavra “obrigado” (ou “obrigada”... tá meio chato usar esse símbolo de arroba para unificar gêneros... a partir daqui vou usar a norma culta da língua, ok? Desculpem, migas.. outra hora a gente discute essas paradas e mobiliza um movimento pela reforma da Língua Portuguesa).

7. Agradeça à vida por tudo. Pode ser a Deus, ou à natureza, ou aos orixás... às deidades em que você acredita, se você não for ateu. Se for, agradeça ao algo ou alguém em que você deposita os créditos da invenção deste fenômeno da fecundação. Agradeça por esse corpo que carrega seu espírito. Agradeça aos seus ancestrais por terem lhe transmitido as bases de tudo o que você é, antes de instalar os “aplicativos” que você adquiriu durante a existência. Agradeça pela experiência de conviver com seus familiares. Seja grato pelos amigos que encontrou pelo caminho. E, finalmente, agradeça por ter conhecido AQUELA pessoa.

8. Mentalize a pessoa de quem você vai se libertar. Apanhe o lápis e os papéis de escrever. No papel número 1, comece a anotar todas as qualidades daquela pessoa. Todas as coisas que ela te ensinou. Todos os momentos que você quer guardar na gaveta de sua memória e que não irá feri-lo quando você se deparar com essas lembranças novamente. Seja humilde e sincero nessa hora. Lembre-se: você está cagando! Você não é melhor nem pior que aquela pessoa. Vocês dois tem no mínimo uma coisa em comum: vocês tem cu!

9. No papel número 2, anote todas as coisas ruins que a pessoa te levou a sentir, todas as bostas que ela te falou. Todas as merdas que ela faz, fez ou fazia, mas que agora nunca mais fará, pois em minutos você estará livre dela. Seja honesto: depois do item anterior, você já nem lembra de tanta coisa assim, não é? Normal... essa amnésia é bem-vinda.

10. Releia o que escreveu na folha número 2. Coisa por coisa, leia em voz alta iniciando a leitura com a expressão “(Nome da pessoa), eu te perdôo hoje e para sempre por...” e vá lendo a lista inteira. Se você conseguir, peça perdão a ela por algumas coisas que achar necessárias também.

11. Releia o que escreveu na folha número 1, do mesmo modo, introduzindo a expressão “(Nome da pessoa), eu te agradeço hoje e para sempre por...” e vá em frente! 

12. Mentalize aquele símbolo do Tao, sabe? Se não sabe, fique tranqüilo que vou colocar ali embaixo. Depois dá uma Googleada para entender melhor, mas o que interessa é que aquele desenho significa que a vida é cíclica. Que tudo se transforma. Que tudo que nasce, morre. Mas que “de tudo fica um pouco”, como diria Drummond. Essa é a lei que rege os planetas e as suas células. Tudo o que entra, sai! Essa pessoa entrou em sua vida e vocês fizeram o que puderam fazer juntas. Ela te ensinou um monte de coisas e certamente aprendeu outras tantas com você. Agora ela deve sair. Pense nisto, com gratidão.

13. Hora do bolo fecal. Aqui você vai precisar de uma certa concentração a mais. À medida que sentir o cocô se movimentando, comece a rasgar a folha número 2 com convicção, enquanto repete com vigor esse texto (ou mais ou menos isso, se você não conseguir decorar): “Assim como o ar que eu inspiro entra em meus pulmões, deixa O2 e sai carregando CO2 na expiração; assim como a água que eu bebo entra e me hidrata e depois sai eliminando toxinas através da urina; assim como este alimento abençoado que eu como entra, deixa as substâncias que me nutrem e sai eliminando aquilo que não me serve mais, essa pessoa sai de uma vez por todas de minha vida, de minhas costas, de meus ombros, de meus pensamentos, de meus olhos, de meus ouvidos, de minha pele, de minha boca, de meu nariz. Eu elimino a presença negativa dessa pessoa por todos os meus poros e orifícios. Eu devolvo ao universo essa pessoa e desejo que ela viva sua experiência na Terra cercada de amor e proteção. Eu solto no vento essa pessoa, porque a perdôo e lhe desejo o bem. Sou grata a essa pessoa por todas as coisas que ela me ensinou. Agora a liberto para que prossigamos separadamente em busca de novas aprendizagens”. E termine repetindo outras 26 vezes a palavra “obrigad@”.

14. Use o papel higiênico. Lave as mãos.

15. Levante-se calmamente. Olhe fixamente para seu cocô até conseguir enxergar o rosto da pessoa nele. Sinta seu corpo mais leve.

16. Puxe a descarga. Abaixe a tampa. E esqueça essa pessoa para sempre.

17. Guarde a folha número 1 para reler, sempre que precisar relembrar o ritual. Os pedacinhos da folha número 2, ainda que ecologicamente incorreto, você deve assoprar pela janela, dissolvendo na natureza todas as coisas ruins que ali estavam anotadas.

18. Olhe no espelho, experimente sorrir.

19.   Repita algumas vezes, olhando com carinho para sua imagem: “Prometo pra você que não te farei sofrer nunca mais!”

20.   Viva em paz! Haja corretamente, com tudo, com todos. Distribua perdões, cultive amor. Seja feliz! E não esqueça: você e todo mundo temos cu! 💗

Resultado de imagem para taoismo

L. M. (12/09/2017)